No som duma gaivota viajo por instantes e
dentro de mim ecoa, uma e outra vez, o bater
das ondas nos rochedos contíguos à austera
casa de madeira escura, desgastada pela ação
das muitas intempéries que ali viu acontecer.
Há uma espécie de nostalgia que me chama
àquele lugar isolado, mágico e misterioso,
banhado por um mar, ora brando, ora revolto,
composição perfeita de água, sal e sol quando
este, por entre as nuvens, se mostra radioso.
Ali, no banco da velha varanda, extensão do
vasto areal e das rochas, extensão de mim,
permaneço imóvel, alheada dum tempo que
passa mas não conta, enfeitiçada pelo lamento
das ondas que quebram, num vaivém sem fim.
E quando, pela calada, se insinua o vento e nas
águas já se adivinha o seu bradar veemente,
adensa-se a minha fascinação, como se para
entender-te, oh mar, precisasse do teu vigor,
da tua fúria, da força da tua ira eloquente.
FASCINAÇÃO ©️
Helena Cavacas Veríssimo
01 Julho 2024
Arte: H. Gailey
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