Dá-me um tempo, dá-me um tempo, estou tão cansado
Vê como tudo em redor apela à nossa ação, e também tu,
Mãe-Natureza, precisas emergir dessa aridez que te consome
Os meus raios de Astro-Rei mais vigor não têm e a amplitude
Perderam, em breve voltaremos em toda a nossa magnitude
E logo em acaso programado se faz desaparecer a ocidente
Exaurida e assim liberada do seu compromisso amoroso
A Mâe-Natureza recolhe-se e nas noites geladas que já se
Fizeram longas entrega-se, sem culpa, ao conforto de
Lareiras aconchegantes, abafos protetores, bebidas quentes
Nada, contudo, que acuda às necessidades ora prementes
É lá fora que o manto providencial da intempérie já se sente
Eis que o céu, pesado e negro, se rasga em trombas d’água
Torrencial, gelada e revigorante a um tempo, qual sémen
Regenerador e fértil, lançado sem preliminares ou lisonjas
Saraivadas esfoliantes jorradas sem toque de meiguice
Mantos fofos e imaculados de neve cobrindo a superfície
Uma bênção fértil em sucessão de orgasmos descontrolados
E quando os dias roubam horas às noites e a saudade
Lança os seus sinais, a Mãe-Natureza sabe que é o tempo
Certo de espalhar a sua generosidade entre os demais
E, igualmente, de se reconciliar com o seu parceiro de vida
De o abraçar, feliz e orgulhosa da sua missão cumprida
Despedem o Inverno e avançam. Cúmplices e apaixonados
INVERNO ©
Helena Cavacas Veríssimo
Setembro 2018
Da Série As Quatro Estações
Arte: “Inverno”, Claude Monet

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