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IDADISMO

Muito se tem ouvido falar sobre Idadismo, ou seja "o preconceito em relação à idade quando ela é usada para categorizar e dividir as pessoas de maneira a causar prejuízos, desvantagens e injustiças" (definição da Organização Mundial de Saúde).


Vários movimentos começam a surgir, várias vozes começam a levantar-se contra este preconceito que, à semelhança de outros como o racismo, o sexismo ou o machismo, para apenas nomear alguns, não fazem qualquer sentido e não deveriam existir.


Tenho algumas reservas quanto a movimentos "contra" isto ou aquilo. Ao estarmos contra o que quer que seja estamos, na verdade, a dar força ao que se quer ver esbatido ou mesmo dissipado.


Lembro-me de ler uma frase de Madre Teresa de Calcutá que, à data, muito me impactou e com a qual concordo em absoluto:

“Nunca irei a uma manifestação contra a guerra, chamem-me se fizerem uma pela paz ”.


Ser a favor da paz ou, se quisermos, ser contra a guerra é algo que não se consegue por Decreto ou por qualquer decisão de grupo.


Terá um alcance maior e mais subtil ser, naturalmente, pela aceitação seja ela dos géneros, das raças, das etnias nas suas igualdades e diferenças do que ser contra a preponderância dum género, duma raça, duma etnia.


Mas porquê ?


Pelo simples facto de que, em meu entender, a aceitação envolve flexibilidade e respeito pela igualdade, permitindo que essas premissas se expressem de forma natural, fluida.


Já quando se está contra, ainda que o objectivo nos possa parecer um objectivo maior, está a alimentar-se o fosso, a distância. Está, implicitamente, a dar-se força àquilo que se quer ver esbatido ou dissipado.


Mas, então, como fazer ?


No seu Relatório Mundial sobre o Idadismo datado de 2022, a OMS refere "ter ficado demonstrado haver três estratégias que funcionam para reduzir o idadismo":


1. Política e Lei

Aqui, é referido que "políticas e leis podem ser usadas para reduzir o idadismo em relação a qualquer faixa etária. Esta estratégia tem implícitos mecanismos de imposição e órgãos de monitoramento que visem assegurar a implementação efetiva das políticas e leis que abordem a discriminação, a desigualdade e os direitos humanos".

Mas será pela imposição, pela coercividade ou pela sanção que algo vai mudar ?

Não creio que tal estratégia produza efeitos válidos.


2. Atividades Educativas

Aqui, é referido que "intervenções educacionais para reduzir o idadismo devem ser incluídas em todos os níveis e tipos de formação, da primária à universidade, e em contextos educacionais formais e informais".

Será uma boa intenção caso seja implementada pelo exemplo. Se a escola não tiver nos seus quadros académicos e funcionais pessoas 60+, que tipo de intervenção fará sentido ?

Como fazer isso ?

Se não for, digamos, pela introdução de disciplinas ministradas por pessoas 60+, naturalmente em função da sua formação mas também e, especialmente, em função da sua experiência profissional e da sua experiência de vida, como por exemplo, disciplinas sobre cidadania, inteligência emocional, liderança, finanças pessoais entre tantas outras que se podem aplicar, porque praticamente inexistentes.

Sem esquecer a mentoria, tão importante junto das populações universitários e de cursos profissionais como orientação, como guia.

Achar que se chega lá debitando teoria ?

Não creio que tal estratégia produza efeitos válidos.


3. intervenções de contato intergeracional

Aqui, é referido "que se deve também investir em intervenções de contato intergeracional que visem fomentar a interação entre pessoas de diferentes gerações".

Mas como fazer isso ?

Levar as crianças ao lares ou as pessoas 60+ aos infantários como se esteja a brincar aos avós e aos netos, sem qualquer tipo de ação programada, como aquelas a que por vezes se assiste ?

Levar as pessoas 60+ às universidades porque fica bem, porque até pode parecer inclusivo mas, afinal, são acções desenraizadas dum planeamento pensado de forma mais profunda ?

Não creio que tal estratégia produza efeitos válidos.


Interessante que nenhuma dessas três estratégias plasmadas no mencionado Relatório coloca as pessoas 60+ (aquelas que a própria OMS define como pessoas velhas, ainda que as mesmas não se sintam velhas, atento o sentido pejorativo implícito) no centro da solução.

Ou seja, definem-se as estratégias sem que os principais interessados (as pessoas 60+) façam parte ativa da definição da estratégia.


Fala-se das pessoas 60+ como se elas não tivessem direito a fazer-se ouvir, como se o seu contributo não fosse importante para a construção da solução, como se não fosse importante o que têm a dizer, o que sentem sobre esta temática.


Na minha condição de pessoa 60+, penso que a Solução a favor da não discriminação em função da idade, poderá nascer a dois níveis:


1º Ao nível da educação.

Na escola, certamente, mas acima de tudo em casa, no seio familiar.

Educar pelo exemplo, passando aos mais novos os valores do respeito intergeracional, da atenção e cuidado ao outro, da gratidão, do amor.


2º Ao nível da consciencialização da sociedade 60+

Mais do que tentar mudar formas de pensar, será às pessoas 60+ que caberá, em primeira mão:


- Valorizar esta fase das suas vidas que se chama velhice (uma etapa da evolução natural da vida que as coloca na condição natural de velhos, uma condição que vai muito para além de qualquer preconceito),


- Valorizar o ativo que representam independentemente da sua condição sociocultural,


- Valorizar toda a experiência e saber acumulados,


- Valorizar a importância da definição de novos objectivos nesta fase da vida bem como a importância de trabalhar para a sua concretização,


- Ser a favor da dignificação da pessoa humana, independentemente da sua idade ou circunstância e não contra aqueles que a não dignificam,


- Não se deixar intimidar ou afetar por opiniões alheias preconceituosas, antes cuidando de se impor por uma atitude construtiva, autêntica, leve, válida para a sociedade, a começar pelo micro-cosmos em que está inserida, ou seja a sua família,


- Acima de tudo e apesar dos preconceitos da sociedade, não querer ser/parecer eternamente jovem, o que é completamente diferente de não zelar pela manutenção de um espírito juvenil, aberto, curioso e interessado por aquilo que as rodeia.


"It's so hard to get old without a cause" lá diz a canção "Forever young"


idadismo; pessoa 60+; preconceito; velhice; nãodiscriminação


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